Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 9 de abril de 2012

ESTRELA DA TARDE Poema de José Ary dos Santos












Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Ary dos Santos   



1 comentário:

Unknown disse...

Considero esta letra (poema) do grande e imortal Ary dos Santos, um dos mais belos poemas de amor que conheço. A forma sempre atrativa como o Ary trabalhou as palavras tornam a sua poesia forte, emotiva e na generalidade inesquecível. Tentem conhecer melhor este poeta Português ligado indubitavelmente à luta anti-fascista da forma que só os grandes poetas conseguem. Escrevendo com irreverência e muitas vezes colocando duplo sentido nos poemas que poderiam ser proibidos pela então censura fascista.
Vóny Ferreira