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sábado, 7 de abril de 2012

“ADEUS” de: Eugénio de Andrade




Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa

2 comentários:

Elvira Carvalho disse...

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Passei para desejar uma Santa e feliz Páscoa. Que o espirito da Páscoa perdure em toda a humanidade, para que se construa um mundo mais justo.
Abraço


Um poema muito belo mas o anterior é um dos meus poemas de eleição.
Um abraço e Páscoa Feliz

Unknown disse...

Tocante, a poesia de Eugénio de Andrade leva-me aos céus onde os pássaros a chilreiam ao som de violinos
Adoro este poema!
Vóny Ferreira